As colheres, como as facas, são utensílios que nos acompanham desde a pré história. Conchas adaptadas, osso, pedra, madrepérola, madeira, bronze, prata... uma longa evolução lhe confere autoridade.
Já com os garfos a história é outra.
Até ao séc. XI, na Europa, comia-se com as mãos (os mais "elevados" utilizavam apenas três dedos). Devia haver um contacto direto com os alimentos, que eram dádiva de Deus.
Ora certo dia, nesse século longínquo, um membro da corte de Veneza - Domenico Selvo - casou-se com uma refinada princesa de Bizâncio - Teodora, de seu nome. No seu enxoval trouxe um misterioso e incompreensível objeto, que espetava nos alimentos! Nas dádivas sagradas! Ainda para mais, um objeto com apenas duas pontas. Isso mesmo, como a lança infernal com a qual o demónio apoquenta os pecadores condenados ao fogo eterno.
Foi considerado heresia, claro - também o que é que não o era… - e só se tornou um objeto corriqueiro já no século XIX. Claro que, entretanto, já Caterina de Médici e Luís XIV o tinham adotado.
Inspirados por esta história, criámos esta homenagem à história dos talheres:
A colher, com a autoridade que a sua idade lhe confere, está aqui representada pela austera e muito católica Eudóxia Macrembolitissa, mãe de Teodora.
Os garfos celebram o casal, Teodora Ana Ducena e Domenico Selvo. Ambos membros da corte, requintados, eruditos, ela mais para o acutilante, ele mais para sua serventia.
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